segunda-feira, 8 de junho de 2009

Concha Gómez: guru matemática para mulheres e minorias

Antes de terminar seu Ph.D. em matemática na University of California, em Berkeley (UCB), Concha Gómez imaginou o emprego de seus sonhos: "estaria numa grande universidade de pesquisa, ensinando matemática e entre matemáticos. Mas meu trabalho seria me concentrar em estudantes de ciência negros." Cinco anos depois, é exatamente este seu papel na University of Wisconsin, em Madison (UWM). Gómez não é só professora de matemática, como diretora do programa Wisconsin Emerging Scholars (WES). Ela apóia e ajuda estudantes minoritários da ciência, matemática e engenharia desprovidos de voz representativa a permaneceram na área. Como uma matemática latino-americana, Gómez é sem dúvida uma raridade, entretanto um ser comprometido a ajudar outras pessoas a trilharem o caminho que ela seguiu.

Problemas para se adaptar

Por coincidência, há 25 anos, Gómez era ela mesma uma estudante da classe de minorias na UWN, e por carecer de ajuda financeira e incentivo, abandonou os estudos 2 anos depois. Aos 20 anos, Gómez mudou-se de Madison para São Francisco. Ela fez uns bicos por uns tempos; um bacharelado não era sua maior prioridade. Entretanto, quando começou a fazer cursos na universidade pública local para se distrair, acabou achando um novo rumo na vida. "Lembro-me de que além de gostar de matemática eu era boa nisso", diz. Ela encarou alguns cursos de matemática e viu que gostava de aprender. Com o incentivo dos amigos e colegas de classe, Gómez se transferiu para a UCB para fazer um bacharelado em matemática.

Embora tenha se apaixonado pelo assunto, não se sentiu como parte da comunidade acadêmica de matemática. Apesar de tirar notas altas, os professores não se lembravam dela. Nos grupos de estudo, quando ela sugeria soluções para problemas matemáticos, os alunos não a ouviam. Gómez acreditava que não era respeitada ou mesmo notada por ser latino-americana e mulher. Mesmo assim, não desistiu. Gómez terminou seu bacharelado em matemática operando basicamente sozinha.

O anel Noetheriano

Esta capacidade de ser bem-sucedida apesar da discriminação esmoreceu quando ela começou a pós-graduação. De acordo com Gómez, no início da década de 90, o departamento de matemática da UCB era "avesso às mulheres." Ela achou forças para persistir ao conhecer outras alunas de pós-graduação em matemática, que também se "sentiam isoladas." Em 1991, tal solidariedade se solidificou na forma de um ´grupo de matemáticas` chamado Anel Noetheriano, co-fundado por Gómez. O anel é uma estrutura matemática batizada em homenagem à admirável matemática Emmy Noether.

O objetivo do grupo era tornar a matemática mais aprazível para as mulheres. Os membros forneciam aconselhamento para as estudantes novatas e correntes. Elas também se encarregavam de selecionar matemáticas para palestrarem em colóquios. O grupo reservava um tempo semanal para o convívio social e para falar sobre matemática, e elas pressionaram o departamento de matemática da UCB a ativamente recrutarem mais mulheres. No final, tal ativismo acabou criando polêmica e hostilidade; levou um tempo para que o grupo fosse realmente aceito no departamento.

"As pessoas rasgavam as filipetas [que divulgavam as reuniões] e desenhavam caretas nas imagens... Os estudantes homens da pós-graduação nos confrontavam no corredor", lembra-se Gómez. No final, a oposição foi morrendo, e um burburinho sobre a visão e iniciativa do grupo chegou trazendo inspiração aos ouvidos de outras matemáticas. O Massachusetts Institute of Technology (MIT), a Johns Hopkins University, e a UWM acabaram formando seus próprios grupos de matemática para mulheres.

Para Gómez, fazer parte do Anel Noetheriano foi instrumental para sua sobrevivência na pós-graduação, e a experiência exerceu uma enorme influência sobre ela. "Me tornei uma oradora articulada... As pessoas sabiam que podiam contar comigo para levantar a voz não só sobre questões do sexo feminino e minorias. De certa forma me tornei uma extremista, tentando implementar mudanças".

Quando estava para terminar seu Ph.D. e enquanto liderava as questões das classes minoritárias, a saúde de Gómez passou a ser um problema. Ela foi diagnosticada com esclerose múltipla (EM), uma doença auto-imune do sistema nervoso central. Gómez mantinha a doença sob controle com o uso de medicações, mas um sintoma, a fadiga crônica, restringia seu tempo de trabalho. Desde sua diagnose, ela tem se concentrado em trabalhos menos estressantes que não requerem pesquisa.

Uma missão

Gómez terminou seu Ph.D. em 2000 e avaliou seu próximo passo profissional. Embora ela tivesse atingido um patamar importante em sua carreira acadêmica, ser uma matemática latino-americana a tornava uma espécie rara. De acordo com o relatório Science and Engineering Indicators 2004, da National Science Foundation, dois índios americanos/naturais do Alasca, 14 negros, 15 hispânicos, e 70 asiáticos/ilhéus do Pacífico receberam em 2000 o grau de doutorado em matemática. O relatório não especifica dados por raça ou sexo, ou seja, mulheres hispânicas, mas 258 mulheres receberam o doutorado em matemática em comparação a 790 homens e 463 caucasianos. Embora Gómez tenha conduzido pesquisa matemática como uma estudante de pós-doutorado, sua paixão maior estava em conquistar mais igualdade entre etnias e os sexos na matemática. Ela decidiu achar um cargo de ensino que enfatizasse o apoio aos estudantes universitários minoritários e às mulheres.

Quando Gómez foi contratada como professora assistente para ensinar matemática na Middlebury College em Vermont, ela esperava que fosse uma oportunidade de fazer grandes mudanças. Infelizmente, o ambiente acadêmico transformou a tarefa em mais do que um simples desafio. "Eu abria o verbo [sobre as minorias e outras questões], e então me diziam que isso não se faz. Os docentes juniores deveriam manter um low profile", disse. Ela também achou que muitos dos estudantes brancos de classe média/alta desta pequena faculdade de artes liberais eram desrespeitosos. Eles às vezes a tratavam como se fosse uma doméstica ao invés de professora.

Com vontade de ir embora de Vermont, Gómez assumiu seu atual cargo em Madison. Desde o outono de 2004, Gómez trabalha num cargo não titular ensinando matemática e dirigindo a WES, um dos Programas Acadêmicos Emergentes em todo o país, criado para ajudar os estudantes desprovidos de voz representativa a permanecerem na ciência.

Através do programa, Gómez visa estudantes minoritários e aqueles de áreas rurais que têm grande potencial acadêmico como bacharéis em ciência, matemática e engenharia, mas que precisam de um apoio adicional para se saírem bem nos cursos de cálculo da UWM. Dominar o cálculo não é tarefa fácil nestas graduações; vários cursos de cálculo são necessários para estes bacharelados e muitos estudantes o acham muito difícil, chegando mesmo a fazer com que alguns desistam ou mudem de disciplina, explica Gómez. Portanto, o programa afia as habilidades dos estudantes através de workshops, onde enfrentam complexos problemas de matemática juntos.

Gómez pode ter encarado desafios singulares como uma latino-americana na matemática. Mas no final, concluiu que seu talento e paixão por esta disciplina deram-lhe uma carreira de sucesso apesar da falta de diversidade em sua área. O mais importante é que vencer estes desafios gerou seu compromisso com o ensino e a diversificação nas ciências. E hoje em dia, não há mais nada que ela queira fazer.

Edna Francisco é colaboradora da MiSciNet e pode ser contatada através do e-mail eofrancisco@nasw.org.

Traduzido por Karen Shishiptorova

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